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| O roteiro que faremos de ida e volta ao Pólo Norte. Arte: Fabio Ramos |
O ÁRTICO
Bem, antes de mais nada cabe aqui situar o leitor sobre o Pólo Norte e o Ártico. O Ártico é a região que fica no extremo norte do planeta, em oposição à Antártica que fica no extremo sul. Diferente da Antártica que é um continente coberto de gelo, o Ártico consiste do Oceano Ártico que banha a costa norte da América do Norte, a Eurásia e suas ilhas. Algumas das ilhas são montanhosas, a maioria cobertas por capas de gelo e de neve. Outras ilhas são menos acidentadas principalmente as que ficam no norte do Canadá.
O Ártico abrange partes do Canadá, da Dinamarca (através da Groelândia, que é território Dinamarquês), Estados Unidos (Alaska), Noruega, Suécia, Finlândia e Rússia.
O Oceano Ártico tem uma área de aproximadamente 14.090.000 quilômetros quadrados, com uma profundidade média de 3.658 metros. Durante o inverno aproximadamente 14 milhões de quilômetros quadrados ficam cobertos de gelo, o que torna a navegação na área praticamente impossível. É quando entram os navios quebra-gelos que mantém abertas as rotas comerciais na região.
No verão essa capa de gelo é reduzida aproximadamente pela metade, retraindo-se cerca de 160 km em direção ao Pólo Norte. A espessura também reduz-se no verão, facilitando o trabalho dos quebra-gelos.
Durante o inverno a capa de gelo tem em média três metros de espessura e está em movimento, girando ao redor do Pólo Norte, ajudada pelas correntes marítimas e pelo vento. Durante as tempestades essa capa se quebra em pedaços que depois vão fundir-se novamente.
As terras que margeiam o Oceano Ártico permanecem sob a neve e o gelo entre nove e dez meses por ano. A vegetação da região limita-se à “tundra” do Ártico, uma vegetação que inclui espécies de grama, flores, liquens e que forma um tapete sobre o qual falarei mais adiante. O solo que está situado abaixo dessa camada de tundra é chamado de “permafrost”, pois permanece congelado por dois anos ou mais. Durante o curto verão do Ártico a tundra é exposta ao sol e experimenta crescimento e desenvolvimento.
O termo “Ártico” vem do grego “arktos”, que significa urso. Dizem os historiadores que esse “urso” tem a ver com a constelação da Ursa Maior, onde está localizada a estrela polar.
Considera-se que a região do Ártico é aquela que está a norte do Círculo Ártico, localizado a 66 graus e 33 segundos (66º 33’) de latitude Norte. Esse círculo determina o limite da noite polar, ou do sol da meia noite como é conhecido o fenômeno que ocorre naquela região quando as noites ou os dias duram meses.
A região do Ártico é, portanto, constituída de uma vasta porção do oceano coberta de gelo e rodeada por solos gelados, sem árvores. O clima da região é caracterizado por invernos extremamente frios e verões com baixas temperaturas quando comparados às regiões tropicais. Lá praticamente não chove, sendo a chuva substituída por neve geralmente acompanhada de fortes ventos, que levam a temperatura do inverno facilmente para 40 graus negativos, já tendo atingido o recorde de 68 graus abaixo de zero! O que determina as temperaturas na região são as correntes marítimas. O Pólo Norte não é a região mais fria do Ártico. É na Sibéria que estão as temperaturas mais baixas, em função das correntes oceânicas.
O Ártico está no imaginário popular principalmente por causa dos esquimós, dos ursos polares, da aurora boreal e do pólo norte. Os esquimós são descendentes de um povo nômade que chegou ao Ártico através do Alaska. Atualmente não se usa mais o termo “esquimó” para designar esse povo. Hoje são os “inuits”. A região que eu percorreria em minha viagem não tem “inuits”.
O Pólo Norte, assim como as regiões em seu entorno, não pertence a nenhum país. Os países vizinhos (Estados Unidos, Canadá, Rússia, Noruega e Dinamarca) têm autonomia sobre as famosas 200 milhas náuticas (370 quilômetros) a partir de suas costas. Mas todo mundo está de olho na região e uma batalha diplomática está em curso para determinar quem tem direito a que áreas.
O PÓLO NORTE
O Pólo Norte, assim como o Pólo Sul, é um ponto matemático pelo qual passa um eixo imaginário em torno do qual a Terra gira. Nesse ponto do planeta o sol circula sobre o horizonte durante seis meses do ano, quando não existe noite, apenas dia. Nos outros seis meses a situação se inverte, com 180 dias de noite. O Pólo não tem comprimento, largura ou profundidade. E como o gelo está em constante movimento é impossível colocar um marco permanente nos 90 graus norte. Quem quiser chegar ao Pólo Norte deve fazê-lo utilizando um GPS e manobrando o navio ou trenó ou caminhando até chegar ao ponto desejado.
[mapa]
Mas esse é o Pólo Norte geográfico. Existe outro pólo, que é o magnético, o local onde as linhas do campo magnético do planeta mergulham verticalmente no solo. NO ano de 2005 a posição estimada do pólo magnético era 82,7º norte e 114,4º leste.
[ilustração sobre as linhas magnéticas]
A posição geográfica do pólo norte magnético muda de ano para ano, entre o Ártico Canadense e o Oceano Ártico. Hoje o pólo magnético está a 1.100 quilômetros do local onde foi encontrado pela primeira vez, por James Ross em 1831. E está a cerca de 885 quilômetros do pólo geográfico.
O ÁRTICO RUSSO
Minha viagem para o polo seria pela rota que parte do porto de Murmansk, na Rússia. O ártico russo atravessa dois continentes e nove zonas de tempo. É a maior costa sob jurisdição de um governo no norte do planeta.
[mapa da minha viagem]
Durante aproximadamente seis meses do ano essa costa está no escuro, coberta de gelo, praticamente impossível de ser navegada e por mais de mil anos os russos tentaram encontrar uma forma de vencer as limitações do escuro, do gelo e do clima. Eles sabiam que poderiam cortar pela metade o tempo das viagens de seus navios do Oceano Atlântico para o Pacífico se encontrassem uma rota pelo norte.
Ao primeiros registros de exploração daquela região vem do ano de 1032 quando exploradores aventuraram-se por lá. Foi em 1764 que o capitão Pavel Chichagov foi incumbido de chefiar uma expedição para encontrar uma rota marítima pelo norte. Foram duas tentativas sem êxito. O gelo não permitiu que os navios seguissem viagem.
Em 1899 o primeiro quebra-gelos russo navegou naquelas águas. Foi o Yermak. Em 1901, sob commando do almirante Makarov o Yermak conseguiu chegar até o arquipélago de Franz Josef Land.
Em 1932 outro quebra-gelos, o Sibiriakov fez pela primeira vez a rota do mar norte, numa única temporada, demonstrando que era possível estabelecer uma linha comercial através do ártico russo. Hoje uma frota de navios quebra-gelos, muitos deles nucleares, mantém essa passagem aberta para navios comerciais.
A bordo de um desses quebra-gelos eu faria minha viagem.
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